27/09/2009

E se...


...E se quaisquer discussões a serem mantidas entre Roma e a Fraternidade São Pio X parecerem encaminhar a um "acordo prático" não-doutrinal entre as duas, então todos os católicos que desejam salvar suas almas teriam que estudar o "acordo" cuidadosamente - especialmente nas letras miúdas - para ver quem seria, no futuro, o líder ou líderes, e seus sucessores, da FSSPX aprovada por Roma.

Ele receberia qualquer título que agradasse a ambas as partes: "Superior Geral" ou "Prelado Pessoal" ou "Senhor Alto Executivo" (um personagem de nobre posto e título) - o nome não seria importante. Crucial seria quem tomasse as decisões; e quem apontaria quem tomaria essas decisões? Seria escolhido pelo Papa ou pela Congregação do Clero, ou por qualquer autoridade Romana, ou continuaria a ser escolhido independentemente de Roma no interior da FSSPX como é hoje, por uma eleição a cada doze anos por meio de 40 padres líderes da Fraternidade (sendo a próxima eleição em 2018)? E mais: que "acordo" aceitaria Roma se não lhe garantisse o controle sobre a eleição da liderança da FSSPX?

A História da Igreja Católica está entulhada de exemplos de lutas entre os amigos e os inimigos de Deus - Normalmente Igreja e Estado respectivamente, mas não mais! - pelo controle da escolha dos bispos Católicos. Pois como qualquer amigo ou inimigo inteligente da Igreja sabem, os bispos são a chave de seu futuro. (Como Monsenhor Lefebvre costumava dizer, em desafio de toda a bobajada democrática de hoje, são os bispos que formam o povo Católico e não o povo que forma os bispos.)

Um exemplo clássico desta luta é o Pacto Napoleônico de 1801 pelo qual o então recente Estado Maçônico Francês assegurou que adquiriria um grau significativo de poder sobre a escolha dos bispos da Igreja em França. Prontamente todos os bispos pre-Revolucionários que eram Católicos demais foram retirados, e a Igreja estava então seguramente em seu caminho rumo a Vaticano II. Similarmente, quando em 1905 os Maçons romperam a união do Estado Francês com a Igreja, para melhor persegui-la, o heróico Papa Pio X aproveitou-se de sua indesejada nova independência do Estado para escolher, e em pessoa consagrar, um simples punhado de nove bispos, mas seu Catolicismo viril assustou tanto os maçons que, tão logo morto Pio X, apressaram-se em renegociar uma certa reunião da Igreja com o Estado, se ao menos eles pudessem recuperar o controle da escolha dos bispos Franceses - e Vaticano II retornou aos trilhos.

O padrão foi repetido em 1988 quando a fé e coragem heróicas de Monsenhor Lefebvre sozinho salvaram a FSSPX consagrando quatro bispos independentemente da explícita desaprovação da Roma Conciliar. As mesmas raposas Conciliares podem agora "recuar" com o objetivo de reganhar o controle dos quatro "patinhos feios" da FSSPX, e seus potenciais sucessores independentes - patinhos dão um apetitoso bocado para raposas! Deus abençoe Pe. Schmidberger e Dom Fellay, e todos os seus sucessores que manterão independência Católica pelo tempo em que Roma estiver fora de seu juízo Católico!


Kyrie Eleison.

Londres, Inglaterra

21/09/2009

Dom Williamson e as discussões difíceis (Parte III)


Duas objeções ao próprio princípio da Fraternidade São Pio X entrando, possivelmente em breve, nas discussões doutrinais com as autoridades da Igreja em Roma, ajudam a enquadrar a natureza, propósito e limitações de tais discussões. A primeira objeção diz que a Doutrina Católica não é para ser discutida. A segunda diz que nenhum Católico pode presumir discutir com representantes do Papa em pé de igualdade. Ambas as objeções aplicam-se em circunstâncias normais, mas as de hoje não são normais.

Quanto a primeira objeção, é claro que a imutável e imutada doutrina Católica não é discutível. O problema é que o Vaticano II empreendeu mudá-la. Por exemplo, pode, ou deve um Estado Católico tolerar a prática pública de falsas religiões? A Tradição Católica diz "pode", mas apenas para evitar um mal maior ou alcançar um bem maior. O Vaticano II diz "deve", em todas as circunstâncias. Mas se Jesus Cristo é reconhecivelmente o Deus encarnado, então nada além de "pode" é verdadeiro. Pelo contrário, se "deve" é verdadeiro, então Jesus Cristo não pode ser necessariamente reconhecível como Deus. O "pode" e o "deve" estão distantes como ser Jesus Cristo Deus por divina natureza ou por escolha humana; ou seja, entre Jesus ser, ou não ser, objetivamente, Deus!

Ainda que as autoridades Romanas afirmem que a Doutrina do Vaticano II não representa ruptura com o dogma Católico, mas sim seu desenvolvimento contínuo. A menos, então - tomara Deus que não!-- que a FSSPX abandone também o dogma Católico, ela não discutirá com essas autoridades se Jesus é Deus, não se trata de por em discussão a doutrina Católica, mas sim esperar persuadir quaisquer Romanos com ouvidos abertos que a doutrina do Vaticano II é gravemente contraposta à doutrina Católica. A esse respeito, mesmo que o sucesso da FSSPX se mostrasse mínimo, ainda se consideraria que fora seu dever dar testemunho da Verdade.

Mas os Romanos podem replicar: "Nós representamos o Papa. Como ousam presumir uma discussão conosco?" É a segunda objeção e para todos aqueles que pensam que a Roma Conciliar está na Verdade, a objeção parece válida. Mas é a Verdade que faz Roma e não Roma que faz a Verdade. Nosso Senhor mesmo repetidamente declara no Evangelho de S. João que sua doutrina não é sua mas de Seu Pai(Ex. Jo. 7, 16). Mas se a Doutrina Católica não compete a Jesus mudar, quão menos competirá a seu Vigário mudar, i.e., o Papa! Se então o Papa, por seu livre-arbítrio dado por Deus, escolhe se apartar da Doutrina Católica, no tocante a essa medida ele depôs seu status de Papa e nesse tocante apenas -- ele continua o Papa -- ele se coloca e/ou seus representantes abaixo de quem permanecer fiel à Doutrina do Divino Mestre.

Portanto o mesmo status na discussão com o Papa reside na medida em que ele se aparta da Verdade, qualquer Católico a assume, sendo fiel à Fé. Como de maneira célebre disse uma vez Monsenhor Lefebvre diante das Autoridades Romanas que o interrogavam por sua dissensão com o Papa Paulo VI, "Eu que devia estar interrogando vocês!" Defender a Verdade de Deus Pai é o orgulho e a humildade, a vocação e a glória da pequena FSSPX do Arcebispo. Se as discussões com Roma significarem o menor perigo que seja da FSSPX ser infiel à sua vocação, então não deveria haver discussões.

Kyrie Eleison.

Londres, Inglaterra

07/09/2009

Agradecimento do Bispo Tissier de Malerais as "Letters from Rector" (Cartas do Reitor) de Bispo Richard Williamson

Ecône 20 de Agosto de 2009

Caro Sr. Heiner, Sua Excelência o Bispo Richard Williamson mandou alguém emitir-me o quarto volume de sua "Letters from the Rector" que você publicou, e eu tenho que agradecer-lhe por esta nova publicação da coluna do meu estimado Bispo.

Eu comecei minha leitura com o poema ao fim do livro, aonde Sua Excelência escreveu "one and twenty years" nos EUA, de onde saiu "nos gemidos e lágrimas" , mas em quais igualmente ecoou e exultou, "Eu retornarei, ordenarei e confirmarei! Que isto seja verdadeiro!

Os quatro Volumes das Cartas de Ridgefield e de Winona fazem os leitores de hoje um espectador de quarenta anos da história da Igreja, quarenta anos em que a Igreja foi movida e sacudida como nunca. Elas ajudam-no a ver as coisas à luz de Cristo Rei, e a pesá-las no contrapeso da Verdade Eterna, d'Ele que disse, " Eu sou a Verdade" (Jn. XI: 6).

O leitor sente compelido a descobrir como a Santa Igreja de Deus, após ser creditada com o Divino Depósito a ser mantido sagrado e a ser apresentado fielmente aos homens "depositum sancte custodiendum et fideliter exponendum" (Vaticano I, Decreto Pastor Eternus), conseguiu, por uma permissão inescrutável do Céu, deixar este Santo Depósito nas mãos ímpias dos proponentes da " Igreja" do homem, que tem, obviamente, se escravizado ao liberalismo opressivo e submetido às mentiras do oficialismo: "(...)Qui nititur mendaciis, hic pascit ventos;
idem autem ipse sequitur aves volantes. "(Prov. X: 4).


Graças á Deus que a mente ereta, olhos sãos e o santo pensamento do nosso Reitor Episcopal são uma luz na escuridão. Sua Excelência não somente foi um forte defensor da Verdade de Deus, mas igualmente foi um advogado persuasivo da verdadeira masculinidade e da sã feminidade, que são pertencentes ao Cristianismo. Baseado nesses dois fatos, com a graça de Deus, ajudou a regenerar duas gerações de homens e mulheres cristãs, que reconstruíram uma Cristandade íntegra, em uma pequena escala talvez, mas com uma grande esperança que se encontra na Igreja, na patronagem das grandes famílias, em numerosas escolas e no corajoso compromisso cívico de homens cristãos a aplicar os princípios da Realeza política de Nosso Senhor Jesus Cristo à vida real.

Assim, então, nos despedimos, Vossa Excelência, com lágrimas nos olhos e com o coração pesado! No entanto " Sursum Corda"; elevemos nossos corações, os corações dos reconstrutores da Cidade de Deus!

Leitores, lêem e apreciem! Comece pelo primeiro ou último destes quatro volumes, e nas palavras da escritura, "Que teus olhos vejam de frente e que tua vista perceba o que há diante de ti! Examina o caminho onde colocas os pés e que sejam sempre retos! " (Prov. IV: 25, 26).

Caro Sr. Heiner, que você seja eternamente recompensado por seu trabalho!

Fielmente seu em Cristo Rei,

+Bernard Tissier de Mallerais

06/09/2009

Dom Williamson e as discussões difíceis

Discussões difíceis (Parte I)

Do Bispo Tissier de Mallerais falando em Paris, ouvimos os termos fixados para as discussões doutrinais que darão lugar entre a Fraternidade Sacerdotal São Pio X e as autoridades da Igreja em Roma. As discussões serão por escrito, o que é sábio, a medida que há menos espaço para a paixão e mais tempo para pensar. Também não serão feitas em público, uma provisão com que melhor elimina a "torcida" para ambas as partes, por outro lado é saber jogar enquanto público, porque lá não haverá público presente.

De Roma ouvimos que o impulso ao entendimento Roma-FSSPX gerado pela "recomunhão" dos quatros bispos da FSSPX em Janeiro pelo o Papa, foi seriamente interrompida pela a desconfiança gerada pela a mídia no tumulto de Janeiro a Fevereiro, tumulto no qual eu fui designado a termina-lo. Ainda subjetivamente falando, existe evidentemente uma boa vontade por parte do Papa em relação a FSSPX, e não má vontade por parte da FSSPX em relação a pessoa do Santo Padre.

O problema para essas discussões é que, objetivamente falando, como em qualquer uma das partes pode haver uma certa relutância em admitir, nós estamos na presença de uma irreconciliável batalha entre a religião de Deus e a religião do homem. O Vaticano II é o misto dos dois, onde predomina a religião do homem. Digamos que Bento XVI quer combinar o Vaticano II com a Tradição Católica. Que é ainda a religião do homem por um quarto. Suponhamos agora que a FSSPX e Bento XVI estão de acordo em chegar a metade do caminho com as duas. Ainda representaria uma oitava da religião do homem misturada com sete oitavas da religião de Deus, que aos efeitos de Deus Altissímo seria ainda um predominante oitavo.

Porque assim como se leva uma pequena desprorpocionalidade entre a água misturada a um tanque cheio de gasolina (ou petróleo) para evitar a morte de um motor de carro, então leva uma pequena mistura de idolatria para evitar a morte da verdadeira religião de Deus. O Senhor Deus nos diz, Ele é um Deus ciumento (Exod. XX, 5; etc.), e não tolerará nenhum deus falso ao Seu lado. Ninguém na FSSPX poderá ser tentado a cultuar com os neo-modernistas, como qualquer neo-modernista poderá desejar cultuar com os católicos. O Profeta Elias no Antigo Testamento disse a hesitação dos israelitas, "Quão distante vós estareis dos dois lados? Se é o Senhor Deus, seguem-O: mas se for Baal, no entanto seguem-o." Escritura (III Reis, XVIII, 21) e continua , "O povo não respondeu uma palavra".

Subjetivamente, os israelitas querem estar dos dois lados. Objetivamente, isso é impossivel. Para nós também. Kyrie Eleison.


Discussões Difíceis (Parte II)

Qual o melhor resultado que se pode esperar, e qual o pior que se deve temer, das "discussões doutrinais" que em teoria começarão entre a Igreja majoritária a Fraternidade São Pio X este outono em Roma? Na prática a separação doutrinal entre o Conciliarismo e o Catolicismo da Fraternidade é tão fundamental (podem ou não podem 2 mais 2 darem 4 e também 5?) que as "discussões" podem nem mesmo começar. Entretanto, supondo que os representantes sentem-se dos dois lados da mesma mesa, o que se pode esperar?

Salvo por um estupendo milagre de Deus, não há, humanamente falando, esperança de forma nenhuma de que os Romanos abandonem sua devoção a Vaticano II, de que o Concílio cuja letra mistura a religião de Deus e a do homem enquanto que seu espírito é definitivamente a religião do homem. Por mais de 40 anos o clero controlando a Igreja foi possuído pela convicção de que a Religião de Deus precisa ser adaptada ao homem moderno, e nada indica que eles estejam prestes a abandonar coletivamente sua "combinazione" mortal, muito pelo contrário. Vejam, por exemplo, a última Encíclica do Papa, "Caridade na Verdade".

Portanto o máximo que se pode esperar da parte dos Romanos é que um punhado dentre eles reagirá positivamente à Verdade Católica posta diante deles pela FSSPX, provavelmente de forma privada -- possam eles salvar suas almas! Da parte da FSSPX, na melhor das hipóteses, ela terá dado testemunho da Verdade na instância mais alta da Igreja onde isso mais importa, e mesmo que isto nesse alto foro faça pouco ou nenhum bem aparente, ainda assim pode-se esperar que um relato franco das discussões apresentado posteriormente a todos os Católicos de boa-vontade pode reforçar o apego à doutrina através da qual Católicos são Católicos, e fortalecer seu senso comum Católico de que, naturalmente e sobrenaturalmente, 2 mais 2 são 4 e nada mais.

O que se poderia temer, por outro lado, é que a primazia da doutrina seja borrada pelos feitiços do outono Romano. "Quem se deita com cachorros romanos levanta com pulgas púrpuras", diz um provérbio (inventado por um amigo). A tentação para a FSSPX, especialmente se Roma acenar tanto o açoite de outra condenação como a cenoura de reconhecimento diante do nariz de um jumento ainda açoitado, será planar sobre o abismo doutrinal e assentar-se sobre algum tipo de "acordo prático"; através do qual a FSSPX, desde já muito grata a Bento XVI, receberia status jurídico dentro da Igreja burocrática em troca da concordância (ainda que tácita) de parar de atacar seu Conciliarismo.

Entretanto, tal entendimento seria o começo do fim. O fim não da defesa da Fé, mas do fim da defesa da Fé feita pela FSSPX; pois como sabia o comunismo à moda antiga sabia, nunca se deve enfrentar Católicos em doutrina, onde os Católicos são mais fortes. Ao invés, sua estratégia era propor algum tipo de acordo prático pelo qual os Católicos passariam por sobre a doutrina e apenas cooperariam em ação com os comunistas. Como o Comunismo sempre soube, o resto viria depois...

Kyrie Eleison.

Londres, Inglaterra